PUB

Laxantes causam habituação? Como melhorar o funcionamento do intestino

11 Jun 2024 - 08:30

Laxantes causam habituação? Como melhorar o funcionamento do intestino

“Obstipação”, “prisão de ventre” ou “intestino preso” são alguns dos termos utilizados para descrever a dificuldade em ir à casa de banho.

Esta condição pode dever-se a diversos fatores, tais como uma dieta pobre em fibra, a ingestão insuficiente de água ou a falta de prática de exercício físico. 

Perante sintomas de desconforto abdominal, cólicas ou um mal-estar geral, a solução mais rápida pode ser a toma de um laxante. Mas será a decisão acertada? Os laxantes podem causar habituação? Como podemos, afinal, melhorar o funcionamento do intestino?

É verdade que os laxantes podem causar habituação?

Em declarações ao Viral, Carina Leal, membro da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), adianta que “existem três principais grupos de laxantes: de volume, osmóticos e estimulantes”.

Os laxantes de volume “são substâncias naturais ou sintéticas que absorvem água e aumentam o volume das fezes”, esclarece a especialista.

Já os laxantes osmóticos “causam um aumento da secreção de água no intestino, levando a um aumento da frequência das dejeções”. 

Por último, os laxantes estimulantes “atuam na contração do intestino e também na secreção de eletrólitos”, aponta.

Segundo a médica, “a toma de laxantes de volume e osmóticos não causa dependência nem habituação”. 

Os laxantes de volume “são à base de fibra” e os laxantes osmóticos “mostraram-se muito seguros na toma a longo prazo”, justifica. 

No entanto, quanto aos que contêm substâncias estimulantes, a resposta já não é tão certa. 

“Pensa-se, hoje em dia, que poderão ser igualmente seguros, mas os estudos mais antigos mostravam um risco de dependência e efeitos secundários, pelo que devem ser evitados numa primeira fase”, sustenta a gastrenterologista consultada pelo Viral.

PUB

Algumas substâncias estimulantes que causam algum alarme neste sentido são, por exemplo, “o sene ou a cáscara”, que também estão presentes “em vários chás”.

De acordo com a informação disponível no site da Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla inglesa), apesar de a frequência dos efeitos secundários não ser conhecida, a toma de “medicamentos à base de folha de sene” pode levar a “reações alérgicas (como comichão e erupção cutânea), dor abdominal, espasmos e diarreia”. 

Além disso, “o uso prolongado pode causar coloração do revestimento do intestino (que normalmente desaparece quando o doente deixa de tomar o medicamento), desequilíbrio de água e sal no corpo, presença de proteínas e sangue na urina e cor amarela ou vermelho-acastanhada da urina”. 

Por fim, frisa-se no mesmo texto, “a utilização prolongada de laxantes como a folha de sene deve ser evitada”, pois “pode levar os intestinos a não funcionarem corretamente e causar dependência de laxantes”.

Noutro plano, conforme um boletim de farmacovigilância do Infarmed, as reações adversas registadas no seguimento da toma de cáscara sagrada são: “habituação (uso continuado na obstipação crónica)”, “cólicas intestinais”, “náuseas”, “vómitos”, “diarreia” e “colestase” (diminuição ou interrupção do fluxo das bílis).

Carina Leal salienta que, de facto, “o abuso de laxantes encontra-se descrito sobretudo para laxantes estimulantes, provavelmente porque são substâncias com um início de ação mais rápido”.

Porém, acrescenta, “são também estas as substâncias que mostraram poder associar-se a riscos graves”, pelo que “poderão ser menos seguras do que os laxantes osmóticos ou de volume”.

PUB

Independentemente do tipo de laxante, o Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla inglesa) alerta para alguns aspetos a ter em conta.

Segundo um texto informativo do NHS, “os laxantes não são adequados para toda a gente”, não sendo recomendados, por norma, a “crianças (exceto se aconselhadas por um médico)” e a “pessoas com determinados problemas de saúde, como doença de Crohn ou colite ulcerosa”.

Por isso, em caso de dúvida, deve-se questionar um especialista antes de tomar um laxante.

Que medidas ajudam a melhorar o funcionamento do intestino?

Na perspetiva de Carina Leal, “o bom funcionamento do intestino está dependente de muitos fatores além da toma de laxantes”, sendo que as recomendações principais para doentes com obstipação assentam em alterações do estilo de vida.

Em termos gerais, deve-se “aumentar o consumo de fibra na dieta, fazer exercício físico e ingerir água de forma adequada”, defende a médica da SPG.

Por exemplo, “a ingestão de 20 a 30 gramas de fibra por dia”, em conjunto com “o consumo de dois kiwis ou três ameixas secas por dia”, a ingestão de “1,5 a 2 litros de água por dia” e a prática de exercício físico, são medidas que podem fazer a diferença num contexto de obstipação.

“Se, após a instituição de medidas de estilo de vida, não se verificar melhoria” – ou seja, se continuar a haver “esforço para evacuar, fezes duras, sensação de evacuação incompleta ou de bloqueio na defecação” -, “deve-se procurar um médico para aconselhamento sobre as várias categorias de laxantes”, frisa Carina Leal.

PUB

Além disso, também é importante recorrer a um médico “sempre que existam sintomas de alarme”, como “prisão de ventre de início recente, sangue nas fezes, perda de peso e vómitos associados”. 

Por norma, “o doente deve iniciar um laxante de volume (como o psyllium) ou um laxante osmótico (macrogol)”. 

Em relação aos laxantes osmóticos, “o macrogol parece associar-se a menos sintomas de distensão abdominal e flatulência que a lactulose, pelo que deve ser preferido”, salienta. 

Por outro lado, conclui, “a toma de laxantes estimulantes (como bisacodilo) ou chás com substâncias estimulantes (como sene) está desaconselhada numa primeira fase”.

11 Jun 2024 - 08:30

Partilhar:

PUB